Foi então que o general Millán Astray tomou a palavra. Ele era um militar mutilado pela guerra no Riff e comandava as tropas coloniais que haviam desembarcado na Espanha, alçadas para derrubar o regime republicano da Frente Popular. Começou sua peroração amaldiçoando os bascos e os catalões por seu desejo autonomista, prometendo que o fascismo iria "exterminar aquele câncer, cortando ambos em carne viva... e sem falsos sentimentos". Do salão veio um grito que tornou-se a divisa do general Astray: "Viva la merte"
O reitor indignado com o que estava ouvindo ergueu-se então. Era Don Miguel de Unamuno, o mais prestigiado dos pensadores espanhóis daqueles tempos. Virou-se para o general Astray e disse-lhe que não poderia permitir que bascos e catalões fossem vilipendiados na sua presença. E que também não aceitaria que em plena casa da sabedoria viessem aclamar a morte, com "um brado necrófilo e insensato". Atribuiu aquele desvario todo ao fato do general ser "um aleijado destituído da grandeza moral de Cervantes", que tendia a compensar-se da sua desgraça procurando mutilações ao seu redor. Nesse momento, ao escutar as derradeiras palavras de Unamuno, o general Astray furioso e de pé, fazendo a saudação fascista, bradou: "Abajo la Inteligencia!", complementando com mais um "Viva la Muerte!"
Unamuno não se intimidou. Voltou-se para ele e disse-lhe: "este é o templo da inteligência. E eu sou o sacerdote mais alto. Sois vós que profanais este sagrado recinto. Ganhareis, porque possuís mais do que a força bruta necessária. Mas não convencereis - Venceraos pero no convenceraos! - porque para convencer é necessário persuadir. E para isso vos falta a razão e o direito em vossa luta."
Então, em meio a um silêncio constrangedor daquela multidão uniformizada que repentinamente emudecera, o reitor retirou-se do recinto. Os militares e os falangistas não o prenderam naquele momento porque temiam as repercussões negativas que certamente viriam do mundo inteiro se o jogassem num calabouço. Recentemente os fascistas ainda ressentiam-se da propaganda negativa que fora o brutal fuzilamento do poeta Garcia Llorca, morto com tiros pelas costas em Granada, não desejavam um outro desastre publicitário da mesma ordem.(...)
in http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/unamuno2.htm
Um momento épico do grande Don Miguel, que é sempre bom lembrar.
ResponderEliminarOs Homens e os outros.
ResponderEliminarSeu leitor recente, mas já atencioso, fiquei impressionado com este seu poste.
ResponderEliminarVou, se não vir inconveniente, fazer um link para a minha rua.
Andava, faz tempo á procura deste incidente.
Obrigado por me ter dado os detalhes.
Abraço,
JA