sábado, abril 18, 2009

Museu de Salamanca e Unamuno

O salão de honra da Universidade de Salamanca estava repleto. Do lado de fora do antiquíssimo prédio, regulares marroquinos e os tercios da Legião Estrangeira montavam guarda. Lá dentro, falangistas - os fascistas espanhóis - com suas camisas azuis misturavam-se com estudantes e professores e demais autoridades, entre elas a esposa do general Franco. Era o 12 de outubro - o Dia da Raça - a data em que o patriciado espanhol escolhera para celebrar sua pureza de sangue e sua fé na ortodoxia católica. Não se tratava pois, de uma celebração qualquer. O clima era tenso pois a Espanha encontrava-se em guerra civil. Quatro meses antes, no dia 18 de julho de 1936, o general Franco liderara um levante militar contra a república e o país dividiu-se em duas zonas, a nacionalista, dominada pelo exército e pelos fascistas da Falange Espanhola, e a zona republicana sob o controle dos democratas, esquerdistas e anarquistas.


Foi então que o general Millán Astray tomou a palavra. Ele era um militar mutilado pela guerra no Riff e comandava as tropas coloniais que haviam desembarcado na Espanha, alçadas para derrubar o regime republicano da Frente Popular. Começou sua peroração amaldiçoando os bascos e os catalões por seu desejo autonomista, prometendo que o fascismo iria "exterminar aquele câncer, cortando ambos em carne viva... e sem falsos sentimentos". Do salão veio um grito que tornou-se a divisa do general Astray: "Viva la merte"

O reitor indignado com o que estava ouvindo ergueu-se então. Era Don Miguel de Unamuno, o mais prestigiado dos pensadores espanhóis daqueles tempos. Virou-se para o general Astray e disse-lhe que não poderia permitir que bascos e catalões fossem vilipendiados na sua presença. E que também não aceitaria que em plena casa da sabedoria viessem aclamar a morte, com "um brado necrófilo e insensato". Atribuiu aquele desvario todo ao fato do general ser "um aleijado destituído da grandeza moral de Cervantes", que tendia a compensar-se da sua desgraça procurando mutilações ao seu redor. Nesse momento, ao escutar as derradeiras palavras de Unamuno, o general Astray furioso e de pé, fazendo a saudação fascista, bradou: "Abajo la Inteligencia!", complementando com mais um "Viva la Muerte!"

Em Defesa da Inteligência

Unamuno não se intimidou. Voltou-se para ele e disse-lhe: "este é o templo da inteligência. E eu sou o sacerdote mais alto. Sois vós que profanais este sagrado recinto. Ganhareis, porque possuís mais do que a força bruta necessária. Mas não convencereis - Venceraos pero no convenceraos! - porque para convencer é necessário persuadir. E para isso vos falta a razão e o direito em vossa luta."

Então, em meio a um silêncio constrangedor daquela multidão uniformizada que repentinamente emudecera, o reitor retirou-se do recinto. Os militares e os falangistas não o prenderam naquele momento porque temiam as repercussões negativas que certamente viriam do mundo inteiro se o jogassem num calabouço. Recentemente os fascistas ainda ressentiam-se da propaganda negativa que fora o brutal fuzilamento do poeta Garcia Llorca, morto com tiros pelas costas em Granada, não desejavam um outro desastre publicitário da mesma ordem.(...)

in http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/unamuno2.htm


Nota: por falha minha não registei os nomes dos pintores e do escultor que...julgava não esquecer...

3 comentários:

  1. Um momento épico do grande Don Miguel, que é sempre bom lembrar.

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  2. Seu leitor recente, mas já atencioso, fiquei impressionado com este seu poste.
    Vou, se não vir inconveniente, fazer um link para a minha rua.
    Andava, faz tempo á procura deste incidente.
    Obrigado por me ter dado os detalhes.
    Abraço,
    JA

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