Turner na liberdade das suas aguarelas dá-nos a emoção do olhar e do sentir em estado puro.Este espaço propõe-se convocar, pela voz dos que sabem, múltiplos instantes de vida: luz e sombra; esquecimento e memória; vida e morte...
"Seja qual fôr o caminho que eu escolher um poeta já passou por ele antes de mim"
S. Freud
sexta-feira, agosto 31, 2007
NOTAS DE VIAGEM IV
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quinta-feira, agosto 30, 2007
NOTAS DE VIAGEM III - pormenores
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quarta-feira, agosto 29, 2007
NOTAS DE VIAGEM II
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
terça-feira, agosto 28, 2007
NOTAS DE VIAGEM
(Aguarelas de Turner) um horizonte onde nos perdemos...(Açores, S.Miguel)
(Aguarelas de Turner) Recorte feito de múltiplos recortes...(Açores, S.Miguel)
(Aguarelas de Turner) Recorte feito de múltiplos recortes...(Açores, S.Miguel)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
segunda-feira, agosto 27, 2007
Pregão - Madredeus
(a propósito dos Açores)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
"UMA COISA EM FORMA DE"....regresso
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
domingo, agosto 12, 2007
A luz e a sombra, uma pausa...
(Aguarelas de Turner) a luz e a sombra
Durante cerca de duas semanas "Aguarelas de Turner" fará uma pausa. Como a luz e a sombra sempre acompanharam o percurso deste blog achei por bem deixar-vos esta janela...e ... até breve...
Durante cerca de duas semanas "Aguarelas de Turner" fará uma pausa. Como a luz e a sombra sempre acompanharam o percurso deste blog achei por bem deixar-vos esta janela...e ... até breve...
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
sábado, agosto 11, 2007
Sob o Signo das águas - lugares que apetecem
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
sexta-feira, agosto 10, 2007
Sob o Signo das águas - entardecer
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
Sob o Signo das águas - águas salgadas
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quinta-feira, agosto 09, 2007
Sob o Signo das águas - outros rios
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quarta-feira, agosto 08, 2007
Sob o Signo das Águas - Personagens
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
terça-feira, agosto 07, 2007
Sob o Signo das Águas - preto e branco
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
segunda-feira, agosto 06, 2007
Sobre o Signo das Águas - Pescadores
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
domingo, agosto 05, 2007
Sob o Signo das águas - Pontes
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
sábado, agosto 04, 2007
Água e Vinho- Egberto Gismonti
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
Sobre o Signo da águas: diferentes olhares...
(Aguarelas de Turner) sonhando sobre as águas... (Palácio Mateus)
(Aguarelas de Turner) dormindo sobre as águas...(Palácio Mateus)
(Aguarelas de Turner) dormindo sobre as águas...(Palácio Mateus)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
sexta-feira, agosto 03, 2007
Sob o Signo das águas : os patos
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quinta-feira, agosto 02, 2007
JOAQUIM ou uma estória mal contada (VII)
(Salvador Dali)
Mas naquele fim de tarde, mais do que nunca, deixara-se envolver no calor dos sonhos e do crepitar das pinhas, tombando num espaço que se dilatara das recordações remotas a este presente que parecia só conseguir pulsar mecânicamente ao som do tic-tac do relógio antigo.
O brusco telefone trespassou o silêncio da casa. Vezes sem conta o olhara como uma espécie de cadáver que ainda não se atrevera a inumar mas que perdia diariamente as últimas potenciais possibilidades.
Dos longes, pelos natais apareciam somente os filhos que de visitas sempre mais súbitas e rápidas lhe diziam:
- pai, passo por aí amanhã;
- pai, queria que olhasse os cachopos;
- pai, a Mariana tem mesmo o castanho avelã dos teus olhos...Vais gostar de a ver...
As vozes que anunciavam a chegada traziam a Joaquim uma excitação quase insuportável.
Se a ideia do imenso e infinito abraço lhe trazia ao rosto o calor que se unia ao brilho dos olhos e à alegria da criança; a raiva, o pavor do encontro gorado, levavam-no a imaginar trancar-se todo por dentro, escondendo-se nos campos seus amigos ou cavando um imenso abrigo mesmo junto ao do seu deus.
E agora, quem seria? Levantara-se quase em desiquilíbrio, olhando do alto aquele som estridente que assimilara à dor cortante de um tiro. Contemplando a linha do tempo, recordou os telefonemas que fizera, instantes em que transpusera aquela membrana fina e difusa, atrevendo-se a tocar-lhe ao de leve.
A última vez fora há quase uma vida, mas voz e palavras tinham deixado incisões na pele da alma. Gostava de pensar que ela não o esquecera, de se imaginar envolvido por aquele corpo denso e macio que ainda lhe fazia sonhar o desejo. Gostava de sentir o desabar da “loucura”.
A dor intolerável levava-o a olhar o telefone sem conseguir dar o passo decisivo. Quase o odiava pela angústia que tomara de assalto todo aquele seu corpo. O não-acontecido confundia-se e misturava-se com a necessidade urgente de saber dela ( que raio de cabeça a dele que não se cansava de imaginar falar-lhe mais uma vez…Podiam vir dar-lhe a notícia, aquela cujo nome sempre evitara pronunciar..)
No recanto dos segredos o tempo parara. Podiam caminhar lado a lado, ambos sentindo o intervalo que nenhum se atrevia a percorrer, como um potente iman revertido. Cheiros de eucalipto e pinheiro misturavam-se à inviável frescura da pele. Se a imaginava caminhando na sua direcção via-se procurando o rápido abrigo. Ela era também a sereia que o conduziria ao naufrágio. Quanto mais lhe sentia a força mais se atemorizava com a possibilidade de poder acreditar. Ninguém o apanharia, menos ainda uma mulher. A ferida por sarar abrira um rasgão na sua existência ardendo a cada possibilidade de encontro. Se abrandasse a guarda das muralhas temia ficar como um errante sem porta. O lugar que o recebera oferecia-lhe a regularidade da certeza onde rotinas se diluíam na alteridade cíclica das estações, mas a estridente campainha não deixara de perfurar o silêncio da tarde ( quantas vezes a ouvira como parte integrante da história antiga, deixando-a tocar na casa desabitada). Desta vez era diferente, sem saber donde lhe vinha a certeza. Um murmúrio. Um breve murmúrio, como se ouvisse o pronunciar do seu nome. Foi então que, em câmara lenta, agarrou o auscultador no preciso momento em que o medo, que sempre ocupara o espaço da vida, lhe suspendeu, uma vez mais o movimento.
No ar giraram imperceptíveis e escassas palavras que logo se perderam da raíz, seguidas de um desligar seco do telefone.
Vestiu-se de imediato o corpo de Joaquim de uma raiva surda, como se o sangue o tivesse por completo abandonado. O tempo parara uma outra vez e a noite que desceu sobre ele e a casa, cobriu-os de um negro fundo e compacto, criando-se assim o puro lugar da ausência.
Não sabia como aquilo acontecera, que lei obscura o governara, agora que os filhos estavam criados, que se sentia mais e mais só, que esperava ser capaz de soltar palavras e gestos sempre amordaçados.
Deixara-se caír vestido sobre a cama sem permitir sequer que a luz o visse e, aconchegando-se no canto obscuro daquele coração desconhecido de si mesmo, deu-se, uma segunda vez, a lágrimas que julgara já por completo impossíveis. Sentia o pulsar das horas nos ouvidos num ritmo síncrono e sempre idêntico. Finalmente soluçava sem disciplina nem ordem, vertendo de uma só vez a dor toda da sua existência. O abalo da emoção que tão raramente lhe for a dado viver, restituía-lhe pouco a pouco o sentido, trazendo-lhe numa sequência contínua de sonhos a unidade perdida.
(este é um dos fins possíveis...Outros poderão ser escritos por quem a isso se dispuser)O brusco telefone trespassou o silêncio da casa. Vezes sem conta o olhara como uma espécie de cadáver que ainda não se atrevera a inumar mas que perdia diariamente as últimas potenciais possibilidades.
Dos longes, pelos natais apareciam somente os filhos que de visitas sempre mais súbitas e rápidas lhe diziam:
- pai, passo por aí amanhã;
- pai, queria que olhasse os cachopos;
- pai, a Mariana tem mesmo o castanho avelã dos teus olhos...Vais gostar de a ver...
As vozes que anunciavam a chegada traziam a Joaquim uma excitação quase insuportável.
Se a ideia do imenso e infinito abraço lhe trazia ao rosto o calor que se unia ao brilho dos olhos e à alegria da criança; a raiva, o pavor do encontro gorado, levavam-no a imaginar trancar-se todo por dentro, escondendo-se nos campos seus amigos ou cavando um imenso abrigo mesmo junto ao do seu deus.
E agora, quem seria? Levantara-se quase em desiquilíbrio, olhando do alto aquele som estridente que assimilara à dor cortante de um tiro. Contemplando a linha do tempo, recordou os telefonemas que fizera, instantes em que transpusera aquela membrana fina e difusa, atrevendo-se a tocar-lhe ao de leve.
A última vez fora há quase uma vida, mas voz e palavras tinham deixado incisões na pele da alma. Gostava de pensar que ela não o esquecera, de se imaginar envolvido por aquele corpo denso e macio que ainda lhe fazia sonhar o desejo. Gostava de sentir o desabar da “loucura”.
A dor intolerável levava-o a olhar o telefone sem conseguir dar o passo decisivo. Quase o odiava pela angústia que tomara de assalto todo aquele seu corpo. O não-acontecido confundia-se e misturava-se com a necessidade urgente de saber dela ( que raio de cabeça a dele que não se cansava de imaginar falar-lhe mais uma vez…Podiam vir dar-lhe a notícia, aquela cujo nome sempre evitara pronunciar..)
No recanto dos segredos o tempo parara. Podiam caminhar lado a lado, ambos sentindo o intervalo que nenhum se atrevia a percorrer, como um potente iman revertido. Cheiros de eucalipto e pinheiro misturavam-se à inviável frescura da pele. Se a imaginava caminhando na sua direcção via-se procurando o rápido abrigo. Ela era também a sereia que o conduziria ao naufrágio. Quanto mais lhe sentia a força mais se atemorizava com a possibilidade de poder acreditar. Ninguém o apanharia, menos ainda uma mulher. A ferida por sarar abrira um rasgão na sua existência ardendo a cada possibilidade de encontro. Se abrandasse a guarda das muralhas temia ficar como um errante sem porta. O lugar que o recebera oferecia-lhe a regularidade da certeza onde rotinas se diluíam na alteridade cíclica das estações, mas a estridente campainha não deixara de perfurar o silêncio da tarde ( quantas vezes a ouvira como parte integrante da história antiga, deixando-a tocar na casa desabitada). Desta vez era diferente, sem saber donde lhe vinha a certeza. Um murmúrio. Um breve murmúrio, como se ouvisse o pronunciar do seu nome. Foi então que, em câmara lenta, agarrou o auscultador no preciso momento em que o medo, que sempre ocupara o espaço da vida, lhe suspendeu, uma vez mais o movimento.
No ar giraram imperceptíveis e escassas palavras que logo se perderam da raíz, seguidas de um desligar seco do telefone.
Vestiu-se de imediato o corpo de Joaquim de uma raiva surda, como se o sangue o tivesse por completo abandonado. O tempo parara uma outra vez e a noite que desceu sobre ele e a casa, cobriu-os de um negro fundo e compacto, criando-se assim o puro lugar da ausência.
Não sabia como aquilo acontecera, que lei obscura o governara, agora que os filhos estavam criados, que se sentia mais e mais só, que esperava ser capaz de soltar palavras e gestos sempre amordaçados.
Deixara-se caír vestido sobre a cama sem permitir sequer que a luz o visse e, aconchegando-se no canto obscuro daquele coração desconhecido de si mesmo, deu-se, uma segunda vez, a lágrimas que julgara já por completo impossíveis. Sentia o pulsar das horas nos ouvidos num ritmo síncrono e sempre idêntico. Finalmente soluçava sem disciplina nem ordem, vertendo de uma só vez a dor toda da sua existência. O abalo da emoção que tão raramente lhe for a dado viver, restituía-lhe pouco a pouco o sentido, trazendo-lhe numa sequência contínua de sonhos a unidade perdida.
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
JOAQUIM ou uma estória mal contada (VI)
(Noronha da Costa)
Quantas vezes partira em direcção à cidade sem saber o que buscava. Nessas alturas os sonhos à custa de tão amordaçados pressionavam os baús da alma corroendo ferragens e cadeados. Quase de olhos fechados vogava por avenidas, lugares, jardins envelhecidos…Tentava adivinhar nas manchas indistintas dos rostos, qual dentre eles se iluminaria, qual lhe diria a presença, aquela que um dia recusara, mas nunca, nunca esquecia. Assim nascia do papel o poema quando no cansaço da solidão se agarrava à cor de uns cabelos ou ao ângulo de um rosto. Estava ali, à distância de algumas passadas, o passado vivo e quente que lhe dizia que nada do que é verdadeiro morre.
De súbito o “presente” encaixava-se na tela antiga salpicada a estrelas e a reflexos de azul, reacendendo naquele seu corpo um maravilhoso ardor. E agora? Que rumo era aquele que a sua existência buscava? O sonho de um tempo nunca acontecido? A fugaz alegria que o tocara quando, quase menino, sentira a naturalidade com que rios de palavras circulavam de uma para a outra margem?
Quando a olhava o passo acelarava-se-lhe ao ritmo do bater desordenado do coração e no rubor de tempos idos sonhava tocar-lhe o ombro, removendo nesse preciso instante todas as muralhas que tempo e medo tinham construído. Seria ela? Sentia-se tomado por uma tão violenta imprudência que quase esquecia como o tempo, “esse escultor” fizera entretanto das suas. Aquela mais não era que o reflexo em espelho baço do sonho que só ganhara existência com a chegada do silêncio.
Era então que palavras saltavam inevitáveis para a folha verde-seca, cor desbotada do tempo, cor irmã desses tantos papeis amarelecidos e acarinhados. Ela habitava a cidade cinzenta que tivera de tomar como sua, os espaços desconhecidos povoados de aridez e de vazio, os longínquos lugares intactos e vigilantes.
Quando as palavras se uniam o poema nascia para lhe dizer a demanda que não conseguira apagar. Ela estava ali viva e distante, palpável e inacessível, jogando às escondidas com o tempo. Desaparecia quase por completo quando as rotinas preenchiam e destruíam os dias, quando o cheiro a morte e a dor empapou os espaços, quando se dizia de si para si que nunca lhe seria dado tocar-lhe, temendo nesse preciso instante pulverizar a miragem. Ela reacendia-se espontâneamente no inusitado instante desse seu presente que nunca desistira de esperar o encontro que se lhe partira tão cedo.(cont)
De súbito o “presente” encaixava-se na tela antiga salpicada a estrelas e a reflexos de azul, reacendendo naquele seu corpo um maravilhoso ardor. E agora? Que rumo era aquele que a sua existência buscava? O sonho de um tempo nunca acontecido? A fugaz alegria que o tocara quando, quase menino, sentira a naturalidade com que rios de palavras circulavam de uma para a outra margem?
Quando a olhava o passo acelarava-se-lhe ao ritmo do bater desordenado do coração e no rubor de tempos idos sonhava tocar-lhe o ombro, removendo nesse preciso instante todas as muralhas que tempo e medo tinham construído. Seria ela? Sentia-se tomado por uma tão violenta imprudência que quase esquecia como o tempo, “esse escultor” fizera entretanto das suas. Aquela mais não era que o reflexo em espelho baço do sonho que só ganhara existência com a chegada do silêncio.
Era então que palavras saltavam inevitáveis para a folha verde-seca, cor desbotada do tempo, cor irmã desses tantos papeis amarelecidos e acarinhados. Ela habitava a cidade cinzenta que tivera de tomar como sua, os espaços desconhecidos povoados de aridez e de vazio, os longínquos lugares intactos e vigilantes.
Quando as palavras se uniam o poema nascia para lhe dizer a demanda que não conseguira apagar. Ela estava ali viva e distante, palpável e inacessível, jogando às escondidas com o tempo. Desaparecia quase por completo quando as rotinas preenchiam e destruíam os dias, quando o cheiro a morte e a dor empapou os espaços, quando se dizia de si para si que nunca lhe seria dado tocar-lhe, temendo nesse preciso instante pulverizar a miragem. Ela reacendia-se espontâneamente no inusitado instante desse seu presente que nunca desistira de esperar o encontro que se lhe partira tão cedo.(cont)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
Sob o Signo das águas: barcos
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quarta-feira, agosto 01, 2007
JOAQUIM ou uma estória mal contada (V)
Chegara a hora de reencontrar a casa. A cesta cheia de cavacas, a lenha bastante e seca, constituíam a imediata preocupação de Joaquim. Tinha de atear o fogo, recriando um envelope mágico que ao envolvê-lo lhe trouxesse a ilusão de presença ( era pena, pensava. estar assim por ali, sozinho, sem poder estender o cobertor macio por cima de outros joelhos que não só os seus)…Esta imagem brotara do crepitar das pinhas, quando a conversa à volta de Bachelard se lhe impusera.
Sempre a colocara enclausurada no inacessível, como paisagem de um país longínquo que apenas se conhece dos cartazes das agências de viagens. Era assim que tinha de ser. Ela, sempre ela ao longe. Como libertar-se de vez desta prisão que lhe forrara a alma e um dia lhe suspendera o tempo? Ela era o mar em que temera afundar-se, o azul brilhante e luminoso que o cegara, a pele fresca e densa que aflorara por instantes, mas a imperfeição também sua que não tolerava.
Alguém dissera um dia que o único amor que existe é o amor impossível. Estava tão certo desta verdade que vivia de rebuscar baús, caixas, esquifes, como quem procura conservar o longínquo raio de luz paralisando-o. Próximo da lareira deixava-se escorregar no tempo das tardes lendo folhas já desbotadas que guardavam cheiros, traços de mãos, restos de areia, conchas imaginadas…Saltava, quase sem dar por isso, de plataforma em plataforma, visitando ignotos lugares gravados em memórias só acordadas nesse seu corpo, cofre de desmedidos segredos. Madeiras antigas, miados misturados com choros calados de menino e a escassez tão radicalmente gravada que determinara todos os fundamentos da sua existência.
Vezes sem conta se perguntara que fazer desses achados. Acumulá-los tal coleccionador que se delicia contemplando prateleiras meticulosamente arrumadas e poeirentas ou ouvi-los como búzios que transportam sonhos e acordam esperanças?
Ao seguir a primeira rota sempre tinha mergulhado nessa espiral que penetrando na direcção do centro o aprisionara num trabalho infindável de reanimação de fósseis que o tempo, de caminho, se encarregara de modificar.
A segunda, conduzia-o ao maravilhoso e assustador imponderável cuja precursão telúrica tanto o atraía como aterrava. Empreender esta segunda viagem era também trocar as voltas ao destino, desdizer a impossibilidade, única morada que sempre conhecera.(cont)
Sempre a colocara enclausurada no inacessível, como paisagem de um país longínquo que apenas se conhece dos cartazes das agências de viagens. Era assim que tinha de ser. Ela, sempre ela ao longe. Como libertar-se de vez desta prisão que lhe forrara a alma e um dia lhe suspendera o tempo? Ela era o mar em que temera afundar-se, o azul brilhante e luminoso que o cegara, a pele fresca e densa que aflorara por instantes, mas a imperfeição também sua que não tolerava.
Alguém dissera um dia que o único amor que existe é o amor impossível. Estava tão certo desta verdade que vivia de rebuscar baús, caixas, esquifes, como quem procura conservar o longínquo raio de luz paralisando-o. Próximo da lareira deixava-se escorregar no tempo das tardes lendo folhas já desbotadas que guardavam cheiros, traços de mãos, restos de areia, conchas imaginadas…Saltava, quase sem dar por isso, de plataforma em plataforma, visitando ignotos lugares gravados em memórias só acordadas nesse seu corpo, cofre de desmedidos segredos. Madeiras antigas, miados misturados com choros calados de menino e a escassez tão radicalmente gravada que determinara todos os fundamentos da sua existência.
Vezes sem conta se perguntara que fazer desses achados. Acumulá-los tal coleccionador que se delicia contemplando prateleiras meticulosamente arrumadas e poeirentas ou ouvi-los como búzios que transportam sonhos e acordam esperanças?
Ao seguir a primeira rota sempre tinha mergulhado nessa espiral que penetrando na direcção do centro o aprisionara num trabalho infindável de reanimação de fósseis que o tempo, de caminho, se encarregara de modificar.
A segunda, conduzia-o ao maravilhoso e assustador imponderável cuja precursão telúrica tanto o atraía como aterrava. Empreender esta segunda viagem era também trocar as voltas ao destino, desdizer a impossibilidade, única morada que sempre conhecera.(cont)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
Subscrever:
Mensagens (Atom)