segunda-feira, janeiro 23, 2006

É travessa como uma criança...

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( Picasso)

É assim que a mulher exerce a sua tentação. As criaturas humanas trazem o que têm de mais magnífico para alimento dos deuses, não conhecem nada de mais magnífico que possam ofertar; também a mulher é um fruto para ser admirado, os deuses não conheciam nada que se lhe comparasse.Ei-la, aqui está, bem perto, presente, e contudo infinitamente longe, escondida no pudor, até ao momento em que ela mesma trai o seu esconderijo, embora não saiba como; o astucioso delator não é ela, mas sim a própiria existência. É travessa, como uma criança que brinca ás escondidas e que espreita do esconderijo, e contudo a travessura dela é inexplicável pois que ela própria nada sabe de tal coisa, e é sempre enigmática, enigmática quando esconde os olhos, enigmática quando envia o mensageiro do olhar que nenhum pensamento consegue seguir e as palavras ainda menos. E contudo, se o olhar é o "intérprete" da alma, onde está afinal a explicação se também o intérprete fala de maneira inexplicável.(....)

Kierkegaard ( IN VINO VERITAS- trad José Miranda Justo)