segunda-feira, dezembro 27, 2010

Eu agarrei-me com força à cadeira e cerrei os dentes

Na ida seguinte ao cinema conseguiu ficar sentada?
Quando o meu Pai quis outra vez sair antes do fim, eu agarrei-me com força à cadeira e cerrei os dentes. O meu pai esperou por mim lá for a e não disse nada. Ele tomou conhecimento da minha rebelião. Foi um esforço de coragem que hoje já não se pode imaginar.

Depois de, finalmente poder ver cenas de amor, desejou ser seduzida?
Sabe, em toda a minha vidanuncative um “rendez-vous” clássico. No entanto, mais tarde casei-me, mas foi com um colega do Clube Alpino. Lá, todos queriam casar comigo. Eu era um bom partido, não se esqueça. E talvez também fosse agradável à vista.

Casou por amor?
Sempre soube que tinha de casar para sair de casa. Estive noiva duas vezes. Nas duas vezes, depois de um curto noivado, pensei: com este homem não consigo relacionar-me durante mais de uma semana. E então escrevi cartas de despedida. A minha avó dizia, “ Minha  querida filha, com a maneira como foges dos homens, vais perder a tua vez muito em breve”. Mas casei com o meu terceiro noivo e estivémos juntos 53 anos.
O seu casamento foi feliz?
Sim. A Segunda Guerra mundial rebentou pouco depois do meu casamento. O meu marido foi mobilizado e eu ingressei imediatamente na Academia de Belas Artes, para estudar Escultura.
Voltou a relacionar-se com Freud mais tarde?

Despedimo-nos daquela vez e depois, durante toda a vida, nunca mais ouvimos falar um do outro. Durante muito tempo, não fiz ideia de quem ele era. Só mais tarde vim a saber: no Estúdio de Escultura da Academia, o meu professor modelou um retrato de Freud. E eu disse: meu Deus, eu conheço-o.

Leu os livros dele?
Não, nenhum. Nunca tive o sentimento de que tivesse de ocupar-me de Freud. Ele ajudou-me, está tudo em ordem.
Como acontece que só agora fale do seu episódio com Freud?

Acontece que eu escrevi as minhas memórias e que toda a gente se interessou apenas pelo capítulo com Freud, que também tinha aparecido em 1999, no livro “ Os melhores filhos e filhas de boas casas”. Mas eu nunca quis tirar proveito disso.
O que teria sucedido se se não tivesse encontrado Freud?
Talvez com o decorrer do tempo, me tivesse atrevido a maior contestação. Mas o meu isolamento teria persistido. Era evidente que na minha vida alguma coisa não estava certa. E não era por minha causa, mas pela minha família.
Como vive actualmente?
Tenho duas filhas que vivem em Israel e nos EUA. Visito-as todos os anos. Desde que o meu marido morreu, há 18 anos, faço ainda mais o que quero. Depois da morte dele, desfiz-me da cama de casal, e arranjei uma cama com um cortinado. À noite, fico acordada até tarde quando um livro me interessa. Faço teatro, estou na Liga de Autores e exponho as minhas obras de arte.
Como educou as suas filhas?
De outra maneira. Isto diz tudo, ou não? As minhas filhas telefonam-me todos os dias. Contamos tudo umas ás outras.
Se, hoje, pudesse encontrar outra vez Freud – o que lhe diria?
Lembro-me de cada instante em que estive com ele. As suas advertências voltaram à minha mente sempre que, na vida, me foram necessárias.

Tradução de Maria Adelaide Ferraz da Costa
Adaptação de Manuela Ferraz da Costa

2 comentários:

  1. que interessante! esse blog é uma surpresa, uma excelente surpresa. Gostaria de saber de onde foi extraído, se puder deixe uma resposta e voltarei para ler. Um abraço

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  2. Fontes : Fontes: http://sz-magazin.sueddeutsche.de/texte/anzeigen/28738 e Revista Portuguesa de psicanálise 2010 30 (1)

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