Paris- Brassai |
Aqui estás.
Aqui estamos, parados um diante do outro, tu de mochila às costas, eu de saco aos pés, com aquele sorriso oblíquo de quem não se olha nos olhos.
Mal nos tocamos, aperto-te a mão e desato a falar.
Do frio, da Ulysses, do Hugo Pratt.
- E se andássemos um bocado para aquecer?
- Antes de ir ao hotel?
- Podíamos beber qualquer coisa.
Então andamos lado a lado, com a nossa bagagem, por Saint- Louis à noite. Levo-te à Ulysses e às papelarias da rue du Pont Louis- Philippe onde há anos descobri uns cadernos encadernados a pano que parecem livros, mas com páginas todas brancas. Ficamos de nariz na montra.
Depois damos a volta ao clarão fantasmagórico de Notre-Dame, e paramos de queixo levantado para a fachada, como se fosse a lua.
As noites de inverno têm a aura das coisas fechadas sobre si. Uma noite assim é para nós.
Não me lembro quando foi a última vez que comi, talvez ao pequeno-almoço, mas quando nos sentamos só peço vinho e tu comes, numa tasca com mesas de fórmica dos anos 60, daquelas redondas, azul-celeste. Um par de ocasião, dois ou três solitários que vejo de relance. A partir daí ficamos dentro de uma luz e o resto desaparece. (...)
(Alexandra Lucas Coelho)- E a noite roda...