Vou primeiro ao Baleal, que é a mais linda praia da terra portuguesa. Não passa duma grande rocha desligada da costa e fundeada a trezentos metros- mas esta rocha é uma ossada, e talvez o último vestígio da Atlântida, saindo do mar azul a escorrer azul, presa à terra por um fio de areia que nas marés mais vivas chega a desaparecer- Deste ancoradouro, com uma baía a sul formada pelo Carvoeiro e com outro côncavo ao norte entre a rocha e a costa, vê-se o esplêndido panorama da terra, do mar e do céu. Vive-se extasiado e embebido em azul, no meio do mar azul, no meio do mar verde, no meio do mar dramático. Voga-se em toda a luz do céu e em toda a cor do mar. Dum lado o areal em circo e aquele grande morto estendi do pelo mar dentro; do outro, e até onde a vista alcança, todos os tons da costa, negras dos rochedos, com riscos de vermelho, até ao biombo que vai passando e desmaiando, primeiro roxo com aldeias ao sol e fundos verdes de pinheiros, depois transparente até atingir o indistinto e o diáfano numa última palpitação de claridade nubelosa. E tudo isto muda de cor e se transforma segundo as horas que passam. Há momentos que é doirado, de manhã ou à hora do poente. Há outros que me sinto abismado em azul e atascado em azul. (...)
(Raúl Brandão- Os Pescadores)
Lindo!
ResponderEliminarEspantoso "pedaço" de prosa. Deslumbramento...
ResponderEliminarAbraço daqui