Addiragram- S.Salvador da Baía |
A Eternidade e o desejo, são duas coisas tão parecidas, que ambas se retratam com a mesma figura. Os Egípcios nos seus Geroglíficos, e antes deles os Caldeus, para representar a Eternidade pintaram um O: porque a figura circular não tem princípio, nem fim; e isto é ser eterno. O desejo ainda teve melhor pintor, que é a natureza. Todos os que desejam, se o afecto rompeu o silêncio e do coração passou à boca, o que pronunciaram naturalmente é O.
Cesso de ver. Os espíritos desmoronam-se e eu regresso às minhas trevas. A música dos atabaques conduz-me, porém, para longe da angústia. Alguém pede licença para se sentar ao meu lado. Conheço-o pelo aroma, conheço-o quando lhe sinto a sua coxa encostada à minha, já o conhecera quando a sua voz me diz boa noite, menina Clara. Emanuel. Sussurra-me que conhece a mãe-de-santo que me abraçou. Mãe Marianinha. Diz-me que ela quer falar comigo. Que ela é, desde há muito tempo, a sua guia espiritual, e está curiosa comigo. Curiosa? E porquê comigo? Emanuel murmura que lhe falou de mim. E que eu não vim à Bahía só atrás da talha dourada e das histórias de outros séculos. Diz-me que há mais coisas debaixo do céu. Respondo-lhe que sim, que falarei com ela. Não aqui, não agora cicía Emanuel. Depois.Noutra hora.Vira-me a palma da mão, põe-me qualquer coisa pegajosa e fria. Diz que é ebo, o alimento do orixá, milho branco cozido só com água, sem temperos. Diz-me que coma, que me vai fazer bem. Como.
(Inês Pedrosa- A Eternidade e o Desejo)
Não há morte
ResponderEliminarnem pricípio
nem princípio
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