quarta-feira, julho 04, 2012

Mas sobem-me a cotação da metáfora...

Emprestem-me as palavras do poema; ou dêem-me
sílabas ao desbarato, para que as ponha a render
no mercado. Mas sobem-me a cotação da metáfora,
para que me limite a imagens simples, as mais
baratas, as que ninguém quer: uma flor? Um perfume
do campo? Aquelas ondas que rebetam, umas
atrás das outras, sem pedir juros a quem as vê?


É que as palavras estão caras. Folheio dicionários
em busca de palavras pequenas, as que custem
menos a pagar, para que não exijam reembolsos
se as meter, de gorjeta, no fim do verso. O
problema é que as rimas me irão custar o dobro,
e por muito que corra os mercados o que me
propõem está acima das minhas posses, sem recobro.


E quando me vierem pedir o que tenho de pagar,
a quantos por cento o terei de dar? Abro a carteira,
esvazio os bolsos, vou às contas, e tudo vazio: símbolos, 
a zero; alegorias, esgotadas; metáforas, nem uma.
A quem recorrer? Que fundo de emergência poética
me irá salvar? Então, no fim, resta-me uma sílaba- o ar-
ao menos com ela ninguém me impedirá de respirar.


(Nuno Júdice- Fórmulas de uma luz inexplicável)

(ilustração de Claudio Dagna)

1 comentário:

  1. Mais um blogue de poesia que encontro (eu
    que muito gosto de poesia) tenho inclusivé
    um blogue onde insiro muita que me cedem,
    http://sinfoniaesol.wordpress.com
    Já me registei no seu.
    Voltarei sempre que possa.
    Irene Alves

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